O Apogeu da Folia de Reis em Goiás

Publicado em 22/05/18

Elizabeth Caldeira Brito

Elizabeth Caldeira Brito

Cadeira nº 08

Uma alvorada festiva despertou, às 6 horas do último domingo, os moradores de Campinas e adjacências. Estava preparada a grande festa. A Praça da Matriz de Campinas se ornamentou de flores, cores e violas para celebrar a fé, o folclore e a religiosidade. Com o tema: “Viola caipira: o som das rezas e cantigas do Brasil interior”, o XIII Encontro de Folia de Reis encantou quem foi ao seu encontro. A Praça se fez pequena. Mas acomodou, com requinte e beleza, o público e os foliões presentes de todos os lugares da capital e de cidades do interior do estado. Quase 50 grupos participaram.

A Missa dos Foliões deu início ao dia festivo celebrada pelo Padre Wellington (Folião na cidade de Nova Veneza). A cerimônia foi preparada pelo doutor em Antropologia, pesquisador, Professor da UFG e 1º Vice-presidente da Comissão Goiana de Folclore Jadir de Morais Pessoa. As letras e melodias, em redondilha maior (versos de sete sílabas), foram especialmente compostas, por Jadir, para a Missa dos Foliões. A Comissão Goiana de Folclore, sob a dinâmica atuação da historiadora Izabel Signorelli, é partícipe da realização dos Encontros, organizados e executados pela Secretaria Municipal de Cultura, sob a batuta de Marci Dornelas e sua equipe, tendo como fiel cúmplice dos trabalhos Elza Honorato.

Há muito que os Encontros são temáticos. Esta edição privilegiou a Viola Caipira, por sua importância na trajetória da cultura popular no Brasil. No folheto litúrgico, subsídio para o acompanhamento dos cristãos à missa, Jadir Pessoa afirma que a ‘Motivação’ da escolha do tema, se deve ao fato de que “...Anchieta e seus seguidores já a utilizavam na catequese e no teatro para os indígenas, tornando-a, também, simultaneamente, instrumento marcante no cateretê e no cururu, danças e cantares aprendidos com os próprios habitantes primeiros de nossa terra. Foi assim que ela percorreu os cinco séculos de nossa história, acompanhando o homem dos rincões profundos nas suas rezas, nas folias, nos benditos, nas feiras, nas funções em dias de mutirão e nos pousos dos tropeiros. Por isso, neste 13º Encontro, agradecemos ao Pai por todo o encanto que a viola caipira agrega à fé do povo, em especial, por todo o brilho que a viola e os violeiros dão às nossas cantigas de Reis.”

No Canto de Abertura, executado pela Folia de Reis Cultural do Brasil, o poema de Jadir Pessoa, reverencia:

“Pai, Filho e Espírito Santo/Na hora de começar/Em nome do Rei Belchiror/Rei Gaspar e Baltazar.

Chamo a caixa e o pandeiro/pra fazer esta chegada/No centro vai a viola/Hoje homenageada.

Ela nasceu em Portugal/Foi criada em Queluz/Hoje encanta o Nascimento/Do menino-Deus, Jesus.

Nas rezas e nas cantigas/foi a primeira a chegar/Hoje caminha com os 3 Reis/Pra chegar ao Santo Altar.

No altar da Eucaristia/A Trindade nos consola/Reunim’os foliões/Tocando nossas violas.”

À Folia de Reis Malhador, em seus 40 anos de tradição, sob a liderança do Embaixador médico, doutor em mastologia Juarez Antônio de Sousa, coube a poesia de Jadir para o momento do Hino de Louvor:

“Ouvi o som da viola/O bordão arrematou/Foliões vamos cantar/Esse hino de Louvor.

Glória a Deus lá nas alturas/Vossa paz venha até nós/Sois o Pai das criaturas/ dizemos de viva voz.

Glória ao Filho de José/Glória ao Filho de Maria/Pelos Magos visitado/Quando chegou o grande dia.

Santo Espírito de Deus/ Santo Espírito de amor/Acompanhados de viola/Cantamos vosso louvor.

Na Oração Eucarística a Folia de Reis de Lages da cidade de Itapuranga, em seus 70 anos de existência (1944-2014), cujo Embaixador é o professor Jadir Pessoa, entoou:

“Entre modas e recortes/a viola é o nosso jeito/Santo, Santo é o Senhor/Disse um dia o povo eleito.

Todo o céu e toda a terra/Com todas as criaturas/Proclamam a vossa glória/Hosana lá nas alturas.

Bendito aquele que vem/Com as cord’em cinco pares/Com os anjos nós cantamos/Hosana enchend’os ares.”

Após a celebração da Missa e o farto café da manhã, seguimos para as apresentações dos foliões. O Foliódromo, simbolizando a viola caipira, tinha como entrada a boca da viola. No corredor, desenhava-se o braço com suas cordas, trastes, casas, cabeça, pestana e tarrachas (partes da viola); onde desfilavam os foliões e suas cantorias de lamento, fé, ritmo e devoção. Inúmeras violas, cenográficas, compunham o cenário da passarela dos foliões. O evento, sob o comando do cantor e compositor Adalto Bento Leal (à frente do cerimonial desde sua 1ª edição), iniciou-se com a “Orquestra de Violeiros Raízes de Pontalina”, sob a regência do maestro Nelson Vargas. Após as apresentações, do período matutino, em mesas fartas sob frondosas e centenárias árvores, foi servido almoço aos foliões, convidados e público em geral.

O início das atividades vespertinas foi marcado pelas apresentações dos grupos de catira “Os filhos de Aparecida” e “Irmãos Florêncio de Anápolis”.

O show de encerramento coube à dupla Avaré e Jataí e à grande revelação da viola caipira em Goiás, o jovem (ainda adolescente) violeiro, Arthur Noronha. Sua interpretação provocou lágrimas (contagiantes) na sensibilidade artística do doutor Honoris Causa da UFG, Presidente de Honra da Comissão Goiana de Folclore Bariani Ortencio, que abrilhantou, com sua singular e festiva presença, aqueles momentos de louvor, dedicação, tradição, fé, religiosidade e folclore.

O entardecer se fez breve e encerrou o dia de louvor. Até o ano que vem quando a gente volta a se encontrar... Se Deus quiser!